Ele percorria sempre o mesmo caminho, do trabalho para casa. Era um curto trajeto, com ruas bem iluminadas. Até que, um dia, o trajeto pareceu se alongar demais e, à medida que ele avançava, as lâmpadas dos postes se iam estourando e as ruas escurecendo. Quando se deu conta, percebeu-se sequestrado. Devagar, sorrateiramente e de assombro, ele foi sequestrado de sua realidade habitual.
Sequestraram-no
de pessoas que ele trazia em alto grau de consideração e da confiança que
depositava na religião.
Sequestraram-no
da esperança de ver nossas riquezas naturais protegidas e da luta sem armas, a
mais aguerrida.
Sequestraram-no
do verde e do amarelo da nossa bandeira e do direito à liberdade, ânsia mais
verdadeira.
Sequestraram-no
do sentido democrático daquilo que é meu, é seu, é nosso, não apenas o que
convier, e da vontade de escolher amar e ter a família que quiser.
Sequestraram-no
do gosto por artistas que antes ele curtia e de tudo que ele mais queria: ver
seu país livre da opressão.
Quem sabe,
um dia?
Cláudia Ferreira
15 de setembro de 2022