Querido
Rubem,
Há muito deixei
de ser adolescente. Confesso que o fui até mais de vinte anos. Época boa, de
poucos compromissos e muito romantismo. Porém, sou de uma geração de
adolescentes que talvez não soubesse o que era a maldade, pelo menos não o tipo
de maldade descrita por você, em sua “Carta a um adolescente”. Éramos mais
inocentes? Não sei. Mas de uma coisa tenho certeza, éramos mais humanos e mais
condescendentes com a natureza, com os mais velhos, com os professores.
Se tínhamos mais
medo? Também não sei. Mas respeitávamos as regras sem que isso nos abalasse ou
nos traumatizasse. Talvez uma geração crescida em meio a um poder camuflado
no crescimento do país, à força a às pressas, mas uma
geração que sabia do poder dos pais sobre nossas atitudes como uma forma de
proteção e não de agressão.
No meu ovo,
portanto, Rubem, guardo isto. Guardo momentos de uma adolescência sadia. Guardo
broncas, sempre educativas, do meu pai. Guardo a ranzice carinhosa de minhas
avós. Guardo as críticas construtivas de alguns professores, guardo também os
anos de universidade na “cidade grande”; minha intelectualidade; as viagens que
pude fazer.
O meu ovo também
está repleto de frustrações, entre aquilo para o qual me preparo cotidianamente
(e bem) e aquilo com o qual me deparo nas salas de aula. Ainda me assusto com
situações em que me obrigo a ser mais assistente social ou psicóloga do que
meramente uma professora de língua portuguesa.
Tenho medo
também, como você, Rubem, de entregar meu ovo a alguém que o quebre e queira
depois colar a casca, em vão, já que o conteúdo se perdeu. Ou será que já o
quebraram e nem vi?
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