21 setembro 2019

QUASE UMA CATARSE



                Tenho pensado muito sobre educação, em professores e gestores, e o caos que se estabeleceu nas escolas. Não saberia determinar ao certo motivos que nos levaram, a nós todos, envolvidos nesse processo, a pensar e agir de forma tão diferente de algumas décadas atrás. Fato é que a desesperança e falta de motivação parecem influenciar a todos: pais, alunos, professores e gestores.
                Hoje, não temos mais professores sem formação, pois todos, ou quase todos, até mesmo os das primeiras séries da educação básica, investiram em licenciaturas, especializações e mestrados em sua área de atuação.
                Vi a escola onde lecionei, por mais de 30 anos, sair da máquina datilográfica e do mimeógrafo (Alguém ainda lembra?) para computadores e impressoras a jato de tinta (Colorida!). Professores de Geografia, Ciências e outras disciplinas travavam verdadeiras batalhas com carbonos de várias cores para montar matrizes de mapas ou corpo humano.
                Vi essa escola, e outras, trocarem ventiladores “teco-tecos”, que se convertiam em mais um empecilho nas aulas expositivas, concorrendo deslealmente com nossa voz e unindo-se à conversa paralela dos alunos, por aparelhos modernos de ar condicionado.
                Agora, temos sala de informática, laboratório de ciências, sala de vídeo, biblioteca escolar, quadra de esportes, quadro branco, lousa digital (Aliás, o que foi feito disso?), etc, etc, etc... Temos. Utilizamos? Favorece a aprendizagem?
                Minha mãe cursou apenas até a 5ª série do antigo Ginásio, foi alfabetizada por um professor leigo, no alto da serra de Cachoeiras, onde ela vivia. Mais tarde, já adulta, casada, mãe de cinco filhos, matriculou-se no antigo Supletivo, onde estudou com professores que só possuíam o Curso Normal ou, no máximo, o antigo Curso de Adicionais (Alguém ainda sabe o que é isso?). No entanto, aprendeu a ler, a escrever, a fazer apenas as operações básicas, o que não a atrapalhou em nada a ser uma excelente cozinheira e costureira, fazendo tortas e bolos sob encomenda, elogiadíssimos em toda a cidade. Costurando, ela mesma desenhava e montava dos moldes à roupa pronta, em sua máquina, inicialmente de pedal e, mais tarde, elétrica (Chiquerésima!). Ambos ofícios aprendidos também com professores leigos.
                Qual é o verdadeiro problema, então, se parecemos ter evoluído tanto? Sempre estudei e lecionei cercada de alunos indisciplinados e, muitos, desinteressados. Sempre trabalhei com muitos professores e gestores também indisciplinados e desinteressados. Isso não parece ser o problema principal.
                Vejo que há uma falta de espaço para a busca de soluções verdadeiras! Colegas de trabalho que antes faziam da sala dos professores um local de debate, agora já não estão mais lá, ou não querem mais fazê-lo. Os COCs foram transformados em anotações mecânicas para alimentar bases de dados. Aliás, estamos todos muitos mecanizados.
                Professor vive de relatar fatos e conquistas, de se “gabar” do efeito que causou com esta ou aquela explanação numa aula que nem ele mesmo acreditava que encantaria tanto os alunos, de “gozar” (Quando o gozo é coletivo, então... Que coisa boa!) com o resultado positivo de uma avaliação feita anteriormente só para “descascar”.
                Tirem do professor a oportunidade e a vontade de falar do seu próprio fazer cotidiano, da sua lida com os alunos, da sua satisfação ou insatisfação com a rotina da sala de aula e lhe tirarão o brilho dos olhos.

Cláudia Ferreira
2018

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