Tenho pensado
muito sobre educação, em professores e gestores, e o caos que se estabeleceu
nas escolas. Não saberia determinar ao certo motivos que nos levaram, a nós
todos, envolvidos nesse processo, a pensar e agir de forma tão diferente de
algumas décadas atrás. Fato é que a desesperança e falta de motivação parecem
influenciar a todos: pais, alunos, professores e gestores.
Hoje, não temos
mais professores sem formação, pois todos, ou quase todos, até mesmo os das
primeiras séries da educação básica, investiram em licenciaturas,
especializações e mestrados em sua área de atuação.
Vi a escola onde
lecionei, por mais de 30 anos, sair da máquina datilográfica e do mimeógrafo
(Alguém ainda lembra?) para computadores e impressoras a jato de tinta
(Colorida!). Professores de Geografia, Ciências e outras disciplinas travavam
verdadeiras batalhas com carbonos de várias cores para montar matrizes de mapas
ou corpo humano.
Vi essa escola, e
outras, trocarem ventiladores “teco-tecos”, que se convertiam em mais um
empecilho nas aulas expositivas, concorrendo deslealmente com nossa voz e unindo-se
à conversa paralela dos alunos, por aparelhos modernos de ar condicionado.
Agora, temos sala
de informática, laboratório de ciências, sala de vídeo, biblioteca escolar,
quadra de esportes, quadro branco, lousa digital (Aliás, o que foi feito
disso?), etc, etc, etc... Temos. Utilizamos? Favorece a aprendizagem?
Minha mãe cursou
apenas até a 5ª série do antigo Ginásio, foi alfabetizada por um professor
leigo, no alto da serra de Cachoeiras, onde ela vivia. Mais tarde, já adulta,
casada, mãe de cinco filhos, matriculou-se no antigo Supletivo, onde estudou
com professores que só possuíam o Curso Normal ou, no máximo, o antigo Curso de
Adicionais (Alguém ainda sabe o que é isso?). No entanto, aprendeu a ler, a
escrever, a fazer apenas as operações básicas, o que não a atrapalhou em nada a
ser uma excelente cozinheira e costureira, fazendo tortas e bolos sob
encomenda, elogiadíssimos em toda a cidade. Costurando, ela mesma desenhava e
montava dos moldes à roupa pronta, em sua máquina, inicialmente de pedal e,
mais tarde, elétrica (Chiquerésima!). Ambos ofícios aprendidos também com
professores leigos.
Qual é o
verdadeiro problema, então, se parecemos ter evoluído tanto? Sempre estudei e
lecionei cercada de alunos indisciplinados e, muitos, desinteressados. Sempre
trabalhei com muitos professores e gestores também indisciplinados e
desinteressados. Isso não parece ser o problema principal.
Vejo que há uma
falta de espaço para a busca de soluções verdadeiras! Colegas de trabalho que
antes faziam da sala dos professores um local de debate, agora já não estão
mais lá, ou não querem mais fazê-lo. Os COCs foram transformados em anotações
mecânicas para alimentar bases de dados. Aliás, estamos todos muitos mecanizados.
Professor vive de
relatar fatos e conquistas, de se “gabar” do efeito que causou com esta ou
aquela explanação numa aula que nem ele mesmo acreditava que encantaria tanto
os alunos, de “gozar” (Quando o gozo é coletivo, então... Que coisa boa!) com o
resultado positivo de uma avaliação feita anteriormente só para “descascar”.
Tirem do
professor a oportunidade e a vontade de falar do seu próprio fazer cotidiano,
da sua lida com os alunos, da sua satisfação ou insatisfação com a rotina da
sala de aula e lhe tirarão o brilho dos olhos.
Cláudia Ferreira
2018
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