15 setembro 2022

SEQUESTRO

             Ele percorria sempre o mesmo caminho, do trabalho para casa. Era um curto trajeto, com ruas bem iluminadas. Até que, um dia, o trajeto pareceu se alongar demais e, à medida que ele avançava, as lâmpadas dos postes se iam estourando e as ruas escurecendo. Quando se deu conta, percebeu-se sequestrado. Devagar, sorrateiramente e de assombro, ele foi sequestrado de sua realidade habitual.

        Sequestraram-no de pessoas que ele trazia em alto grau de consideração e da confiança que depositava na religião.

           Sequestraram-no da esperança de ver nossas riquezas naturais protegidas e da luta sem armas, a mais aguerrida.

         Sequestraram-no do verde e do amarelo da nossa bandeira e do direito à liberdade, ânsia mais verdadeira.

        Sequestraram-no do sentido democrático daquilo que é meu, é seu, é nosso, não apenas o que convier, e da vontade de escolher amar e ter a família que quiser.

          Sequestraram-no do gosto por artistas que antes ele curtia e de tudo que ele mais queria: ver seu país livre da opressão.

           Quem sabe, um dia?

 

Cláudia Ferreira

15 de setembro de 2022

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