26 maio 2020

A PAISAGEM


 
E de repente, do alto da montanha,

A moça via tudo diferente.

Não era seu lugar, nem sua gente.

Tudo uma estranheza tamanha.

 

Onde havia casas e quintais,

Ruas asfaltadas, prédios altíssimos,

Gente, muita gente, gente demais,

E buzinas a cantar em oníssono.

 

Mais estranheza ainda, porém,

Era aquela sensação presente,

De que ela não lembrava de ninguém.

 

Se o tempo passou tão de repente

Isso ela não lembrava também,

Ou então porque deixou de ser gente.

 

 

Cláudia Ferreira

25 de maio de 2020


Tudo parece ficar ruim

É o início do fim

Dia, noite, noite, dia

Idiossincrasia

Opiniões em mim

 

Cláudia Ferreira

17 de maio de 2020

04 maio 2020

REENCONTRO (Ou coisas que a gente não sabe explicar)





Vejo minha avó materna,
Sentada num velho sofá.
Não estava só.
Algumas pessoas, em pé, ao seu lado.
Olhavam fixamente uma tela de TV.
Pergunto o que veem.
Minha avó responde:
“Não vê? Uma cachoeira!”
Aproximo-me.
Ouço um chamado,
Que não entendo de onde vem.
Atravesso a cachoeira.
Do outro lado, uso um vestido
De flores multicoloridas.
E outra vez, sou chamada a continuar.
Não tenho dúvidas por onde seguir,
Como se sempre tivesse vivido ali.
A paisagem...
Árvores frondosas...
A velha casa...
Tudo me é familiar
E me esperam para um almoço.
Alguém me entrega um envelope.
Nele, papéis que não reconheço
E uma passagem de ônibus,
Cujo destino não sei.
De repente, uma voz:
“Foge... Foge...”
Sem nem saber o porquê
Saio correndo,
Pulo por uma enorme janela
E caio na cachoeira por onde entrei.
Volto à realidade.
Era um sonho...
Um reencontro talvez.

Cláudia Ferreira
4/5/2020

01 maio 2020

OS INVISÍVEIS




Andei pensando nos trabalhadores.
Muitos não têm o que comemorar,
E até no primeiro de maio,
São obrigados a trabalhar.

Na televisão, muitos dizem:
Brasileiro é trabalhador e não desiste!
Mas para os que governam,
Muitas vezes, ele nem existe!

Há os que sempre estão ali,
E invisíveis nas ruas são.
Veem sempre o nosso lixo,
Mas os preferimos longe da nossa visão.

Há os que lavam, varrem, cozinham.
Invisíveis nos lares são,
Mas se faltam um único dia,
A rotina se torna uma confusão.

Há os que cuidam de nossas chagas,
Em infectados ambientes.
Anjos invisíveis, aliviando a dor,
Mas que também caem doentes.

Há os que correm sobre duas rodas,
No vai-e-vem de tantas necessidades.
Invisíveis nos seus capacetes,
Servem ao urgente e às vaidades.

Há os que são invisíveis durante o ano,
Lembrados só na nota final,
Sem estrutura, muitas vezes, sem salário,
Tendo que se reinventar no mundo digital.

Certamente, há tantos outros,
Que eu poderia lembrar aqui.
Porém, escolhi entre muitos,
O professor, o moto-boy, o enfermeiro, a doméstica e o gari.

E vai meu último recado
Àquele que se acha o dono do mundo
Os coveiros estão trabalhando.
Vai trabalhar, vagabundo!

Cláudia Ferreira
1º de maio de 2020

VERSOS LIVRES E NECESSÁRIOS

Se eu fosse uma mulher?   Me vestiria de flores, Imitando a primavera, Em suas tardes mais solares.   Sairia em busca do sol, Me...