24 outubro 2019

BRASILIDADES



                Perambulando pelo Mercado Modelo, em Salvador, à caça de uma pequena lembrancinha para minha sobrinha, encantei-me com um instrumento musical, parecido com um tamborzinho.

                O vendedor, imediatamente, veio atender-me, embora a loja estivesse cheia de gente.
Fazendo gestos e soletrando as palavras, como a ensinar a língua portuguesa para um estrangeiro, ele batia no tamborzinho e dizia:

                _ Cou-ro, cou-ro-de-ca-bra.

                Depois, pegou outro instrumento e repetiu:

                _Ma-dei-ra, ma-dei-ra.

                Senti-me como Murilo Mendes, exilado, dentro de minha própria terra. Em frações de segundos, desejei não ter estas características europeias, herdadas da mistura de suíços e portugueses.

                Sem saber direito o que fazer, mas achando hilária a situação, embora estivesse perplexa (e muda), fiz gestos que indicavam perguntar o preço, ao que ele respondeu:

                _ Cin-quen-ta. Mostrando-me uma cédula da moeda do meu país!

                E eu mais que depressa:

                _ Cinquenta pra gringo. E pra brasileiro, quanto é que custa?


Cláudia Ferreira
Janeiro de 2002



6 comentários:

VERSOS LIVRES E NECESSÁRIOS

Se eu fosse uma mulher?   Me vestiria de flores, Imitando a primavera, Em suas tardes mais solares.   Sairia em busca do sol, Me...