19 de abril, dia do índio. Do índio... Quando eu era pequenina, minha mãe fazia colares de macarrão goelinha, pra serem pintados no Jardim de Infância, com tinta guache. O cocar era feito com uma tira de cartolina, desenhada, também na escola, com motivos indígenas, e enfeitada com penas arrancadas das galinhas criadas por meu pai. Coitadas! E eu voltava pra casa, certa de que era a maior representante dos indígenas do Brasil. Ainda bem que cresci, estudei, formei-me professora e nunca repeti isso com meus alunos. Como as frases “Deixa o índio vivo no sertão/Deixa o índio vivo nu/Deixa o índio vivo/Deixa o Índio/Deixa”, na voz do eterno Tom Jobim, fazem sentido pra mim, hoje!
21
de abril, dia de Tiradentes, remete-me à infância e a episódios em que a
professora, lá no meu antigo primário, descrevia essa personagem com
características de herói nacional. Lembro-me de chorar com uma adaptação da
música "A praça", imortalizada na interpretação de Ronnie Von, que
nos colocava quase como amigos íntimos de Tiradentes: "Naquele dia triste,
foi num vinte e um de abril, quando tu morreste, eu jamais esquecerei. Hoje o
seu nome é cantado no Brasil, e sempre com orgulho lembrarei". A letra adaptada
era isso ou quase isso e não sei a autoria. Depois, aprendi a ver esses
"heróis" com outros olhos, mas não entrarei, aqui, em detalhes
históricos.
22
de abril, "descobrimento" do Brasil. Quando ouvia isso, também lá no
meu antigo primário, imaginava o mapa do Brasil debaixo de um grande cobertor.
É sério! Aí, minha professora dava aquela aula linda, descrevendo a viagem de
Pedro Álvares Cabral, a tempestade, as caravelas. Vamos combinar. Que criança
não se encanta com isso? Depois... Bem, o depois, todos nós sabemos e vivemos.
Esse
mesmo dia 22 é o dia da Terra. Fico sem palavras pra expressar a tristeza com
tanto descaso e exploração irracional. Nasci e cresci com pessoas que achavam
natural caçar e prender pássaros; matar animais selvagens pra comer; acabar com
toda a vegetação do quintal, inclusive árvores e arbustos, porque era bonito
ter um terreiro “limpo”; entre outros hábitos. Se eu e tantas pessoas aprendemos
a agir diferente, por que muitos ainda insistem nessas práticas? A Terra é um
ser vivo! Assim como nosso corpo, maltratado, cobra as consequências, a Terra
já começou a cobrar os maus-tratos. Infelizmente, a pandemia que estamos
vivenciando é só o começo.
23
de abril, dia de São Jorge, era apenas um dia em que muitos Jorges, conhecidos
e amigos, aniversariavam. Devo confessar que, apenas depois desse dia ser
transformado em feriado no Estado do Rio, passei a pensar no valor da figura de
São Jorge para muitas pessoas. Passei também a pensar na força do que ele
representa e pedir, de vez em quando, como na canção de Djavan, que ele,
"por favor, me empreste o dragão".
Quanto
ao dia internacional do livro, também comemorado no dia 23, prefiro o dia
nacional, em 29 de outubro, homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, no Rio
de Janeiro. Em tempos de aumento dos
impostos sobre livros, que continuemos tendo o que comemorar. Não saberia
especificar a data, se do dia internacional, nacional, ou ainda, do livro
infantil, também comemorado em abril, dia 18, em homenagem a Monteiro Lobato,
mas lembro-me de colorir umas folhinhas mimeografadas, com imagens humanizadas de
uns livrinhos muito simpáticos, que a professora levava pra aula, num desses
dias. Prática que repliquei com meus alunos, em minha rápida passagem pelo
agora chamado Fundamental I e em minhas turmas de 6° ano do Fundamental II.
Lecionando
Língua Portuguesa e Literatura, sempre defendi e incentivei a leitura, mesmo
nas turmas mais precoces do Fundamental e arrisquei criar leitores tardios, já
no Ensino Médio. Não me arrependo, apesar das reclamações de alguns no tocante
à leitura da chamada “literatura clássica”. Talvez, tudo isso tenha me ajudado
a amar os livros. Talvez, isso tenha incentivado muitos dos meus alunos à
prática da leitura. Talvez, por isso, hoje, saibamos o que sofrem os indígenas
no Brasil, quem foi Tiradentes, quem foi Pedro Álvares Cabral, que a Terra é
redonda, qual é a importância da Biblioteca Nacional, quem foi Monteiro Lobato,
o que São Jorge representa, e quem ou o quê salva ou entrega um país aos
"dragões”.
Cláudia Ferreira
24 de abril de 2021