28 outubro 2020

GADO NO ABATEDOURO

                 Pensando sobre vacinação e, em especial, sobre a vacina da COVID19 e nas frases que tenho ouvido por aí: "Não vamos obrigar ninguém a tomar"; "Não quero ser obrigado a tomar"; "Não vou tomar vacina de país comunista"; “Ninguém confia nessa vacina”; entre outras.

                Quando foi que nos obrigaram a tomar vacinas, depois que iniciamos nosso processo democrático? Basta ver os números cada vez mais baixos das coberturas vacinais, para constatar que muita gente tem deixado de fazê-lo.

                Aliás, no Brasil, parece que não somos obrigados a nada, não é mesmo?

                Não podemos estacionar em qualquer lugar, mas estacionamos; não podemos viajar sem cinto de segurança, mas viajamos; não podemos ocupar assentos reservados a idosos, mas ocupamos; não podemos despencar um cacho de uvas ou de bananas, pra provar, mas despencamos; não podemos fingir que não vimos o troco a mais devolvido pelo caixa do supermercado, mas fingimos; não podemos furar filas, mas furamos;  etc, etc, etc.

                Então, não seria bom fazermos uma diferença entre "ser obrigado" e "ter a obrigação"?

                Voltando às vacinas, que tal pensarmos assim: "Não sou obrigado a tomar, mas tenho a obrigação de tomar, em respeito às pessoas que me cercam".

                Vocês, que sempre vacinaram seus filhos; que se vacinaram, mesmo depois de adultos, contra a febre amarela, contra o sarampo, contra o tétano; que acham chique ter que se vacinar pra poder viajar pra determinadas regiões do país ou pra outros países, não acham que estão caindo em contradição, ao dizerem que não querem ser obrigados a tomar uma vacina, em benefício de uma coletividade?

                Ah... Mas é aquela brincadeirinha de "macaco mandou", né?

                Não acham que já estão um pouco grandinhos pra serem paus-mandados e "brincarem" com a própria vida e a vida alheia?

 

Cláudia Ferreira

28 de outubro de 2020

05 outubro 2020

QUASE UM EPITÁFIO


                 A treva chega, muitas vezes, sem se anunciar.

                 Quando a gente vê, já escureceu.

                 Mas me parece que, no Brasil e em boa parte do mundo, ela chegou de mansinho, como numa tarde de verão, em que teimamos em alongar o tempo de praia, ou à beira de um rio manso, ou na espreguiçadeira da piscina.

                 Sabíamos que a noite chegaria, mas a promessa de um fim de tarde perfeito era mais acolhedora do que enfrentarmos a certeza da escuridão.

                 Então, de repente, saímos correndo da praia, porque o vento começou a soprar frio.

                 De repente, o caminho da beira do rio até a estrada ficou irreconhecível e perigoso.

                 De repente, levantamos da espreguiçadeira torrados de sol e ainda tendo que providenciar o jantar das crianças.

                 De repente, elegemos governantes que, agora, tarde demais, percebemos serem a própria treva.

                 De repente, o mundo mergulhou numa tremenda e nebulosa apatia.

                 De repente, eu não me reconheço mais em amigos, outrora, eternos.

                 De repente, não me reconheço mais em mim.

 

Cláudia Ferreira

4 de outubro de 2020


               

SOBRE NOSSOS PARLAMENTARES E TAIS

E vem aumentando a lista que se enquadra na máxima de que "político é tudo igual, nenhum presta". Nos últimos dias, nosso Congress...