ANONIMATO
Já fui muita coisa nessa vida. Fui ativista
em várias atividades profissionais e culturais, por escolha e por obrigação. Algumas
me trouxeram realização e orgulho.
Hoje, vivo o privilégio do anonimato
que a vida adulta e a aposentadoria me trouxeram. Hoje, sou... ninguém!
Percebo, a cada dia, que vou ficando
mais invisível aos olhos de quem passa. Não carrego mais o peso de ter que ser
exemplo o tempo todo. Amém!
Isso não me provoca tristeza alguma.
E pretendo gozar desse anonimato com muito prazer!
Tristeza seria sair do anonimato
para ser lembrada como “aquela que perdeu a vida por causa do coronavirus”, um
mal também invisível.
Tristeza é constatar que meu
anonimato, por opção, é muito diferente do anonimato, por condição, de milhões
de pessoas, invisíveis aos olhos de alguns. Esse anonimato mata!
Mórbido? Não!
Mórbido é o descaso.
Mórbida é a fome.
Mórbido é não ter escolha.
Cláudia Ferreira
19 de abril de 2020