19 abril 2020


ANONIMATO

            Já fui muita coisa nessa vida. Fui ativista em várias atividades profissionais e culturais, por escolha e por obrigação. Algumas me trouxeram realização e orgulho.
            Hoje, vivo o privilégio do anonimato que a vida adulta e a aposentadoria me trouxeram. Hoje, sou... ninguém!
            Percebo, a cada dia, que vou ficando mais invisível aos olhos de quem passa. Não carrego mais o peso de ter que ser exemplo o tempo todo. Amém!
            Isso não me provoca tristeza alguma. E pretendo gozar desse anonimato com muito prazer!
            Tristeza seria sair do anonimato para ser lembrada como “aquela que perdeu a vida por causa do coronavirus”, um mal também invisível.
            Tristeza é constatar que meu anonimato, por opção, é muito diferente do anonimato, por condição, de milhões de pessoas, invisíveis aos olhos de alguns. Esse anonimato mata!
            Mórbido? Não!
            Mórbido é o descaso.
            Mórbida é a fome.
            Mórbido é não ter escolha.
           
            Cláudia Ferreira
            19 de abril de 2020


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