28 março 2020

SOU (à) PARTE




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Dados rolando
Quantas casas andar
Quantas casas pular
Sobre a linha
Não dá pra ficar
Escolhe-se uma posição
Ou jogo paralisado

Tomar parte
Fazer parte
Ser parte
Ficar à parte
Posições escolhidas
Ideias assumidas
Não existe imparcialidade
Não se escolhe pela metade

Ouvir
Falar
Engolir
Calar
Refletir
Compartilhar
Posições
Ideias

Em cima do muro
De um lado
De outro
Trocando de lado
Fazendo parte
Escolhendo posições
Assumindo ideias
Game over

Cláudia Ferreira
28 de março de 2020

04 março 2020

SOBREVIVENTES



            O ano é 2050. Depois de décadas da epidemia que levou à morte milhares de infectados, no navio que permaneceu ancorado, à época, em observação, e depois, desinfetado e liberado para o uso, um cozinheiro entra em contato com uma substância esponjosa e úmida, ao limpar os cantos de um dos armários de utensílios.
            Alguns dias depois, o homem, que era conhecido por ser rude, grosseiro e radical, destilando seu ódio por toda a tripulação, começou a tratar todos com educação e simpatia.
            A princípio, todos estranharam, visto que os piores sentimentos haviam se tornado regra na sociedade, e alguns, que eram seus fãs e até o imitavam, tomando-o como exemplo de austeridade e disciplina, condenavam-no, por ter apresentado tal mudança. E quanto mais os dias se passavam, mais ele modificava sua postura e atitudes, tratando bem até as mulheres da equipe, o que não lhe era peculiar. Assim, sua gentileza começou a se espalhar pelo navio, pelo porto, pela cidade, pelo país, e ganhou o mundo! Nos lares, ruas, enfim, por todos os ambientes, a felicidade podia ser vista no semblante da população.
            Até que o grupo que se decepcionou com a mudança daquele homem e não aprovava um mundo tão fraterno, organizou-se e chegou ao poder. Assim que tiveram a chance, dominaram a Ciência e seus laboratórios, na pesquisa de uma vacina contra esse “novo vírus”. Pessoas que, há trinta anos, não tomavam vacinas foram as primeiras a procurar os postos de vacinação. Mas, a maioria entendia que, pela primeira vez, em muitos anos, seus anseios de uma sociedade mais justa e amável estavam se realizando e, em massa, boicotaram a vacina, mesmo sendo, em alguns lugares, imposta à população sob a mira de armas.
            Trinta anos podem ter sido muito para alguns, mas a mudança aconteceu. Aqueles que se negaram a tomar a vacina conseguiram perpetuar, na espécie humana, valores que pareciam escondidos ou que as pessoas tinham vergonha de deixar transparecer, porque o vírus do ódio havia se disseminado até então.
            A substância esponjosa e úmida com a qual o cozinheiro teve contato era o botão de uma flor extinta, assim como outros vegetais e animais, e o “novo vírus” era o amor, sobrevivente, em nós.

Cláudia Ferreira
04 de março de 2020


VERSOS LIVRES E NECESSÁRIOS

Se eu fosse uma mulher?   Me vestiria de flores, Imitando a primavera, Em suas tardes mais solares.   Sairia em busca do sol, Me...