Nasci
branca.
Fazer o quê?
Cor da pele
me persegue.
Sou menos
brasileira?
Nunca achei.
Vem, Véio Minga.
Vem, Dona Amélia.
Vem, Vó Antonilha.
Vem, D. Júlia Ouverney.
Vem, Tio
Manoel Dias.
Vem, Dona Laura.
Vem, Dona Eva.
Vem, Seu Cláudio.
Vem, Cumpadi Nego.
Vem, Seu Joãozinho!
Vem, mãe Denair!
Vêm dançar
comigo essa ancestralidade.
Vêm cantar
comigo toda influência.
Vêm com seu
fogão à lenha.
Vêm com seus
tamancos.
Vêm com
sanfonas e violões.
Vêm festejar
nos assoalhos dos salões.
É ferro de
passar com brasa.
Cuidado! A
faísca caiu no tecido.
Vai
estragar!
É tacho de
melado.
Espera
menina. Precisa esfriar!
É banho
gelado na represa.
Quem vai
encarar?
É fruta pão.
É travesseiro
de paina.
É o eco da
serra.
É a
criançada em festa.
É tempo de
despertar...
A cor não
importa mais.
Ficaram os
cheiros.
Ficaram os
sons.
Ficaram as
emoções.
Cláudia
Ferreira
8 de
novembro de 2019