23 setembro 2019

É GUERRA?



Eu penso.
Você pensa.
Nós pensamos.
Logo, existimos!

Mas existimos em constante guerra.
É guerra de sexos.
É guerra partidária.
É guerra financeira.
Guerra de egos.
Guerra de status.
Guerra de stories.
Guerra de lives.

Enquanto isso,
Nosso verdadeiro inimigo se agiganta.
E, com tramoias sórdidas,
Vai nos roubando
A vontade de sorrir,
Os amigos de infância
E tantos outros.

Talvez não tenha fim.
Talvez não esteja só em mim
A estranheza de tudo parecer familiar
Ao nosso, ao seu, ao meu olhar.
A constatação de que tudo isso sempre existiu
E ninguém nunca viu.

Cláudia Ferreira
22/09/2019



21 setembro 2019

QUASE UMA CATARSE



                Tenho pensado muito sobre educação, em professores e gestores, e o caos que se estabeleceu nas escolas. Não saberia determinar ao certo motivos que nos levaram, a nós todos, envolvidos nesse processo, a pensar e agir de forma tão diferente de algumas décadas atrás. Fato é que a desesperança e falta de motivação parecem influenciar a todos: pais, alunos, professores e gestores.
                Hoje, não temos mais professores sem formação, pois todos, ou quase todos, até mesmo os das primeiras séries da educação básica, investiram em licenciaturas, especializações e mestrados em sua área de atuação.
                Vi a escola onde lecionei, por mais de 30 anos, sair da máquina datilográfica e do mimeógrafo (Alguém ainda lembra?) para computadores e impressoras a jato de tinta (Colorida!). Professores de Geografia, Ciências e outras disciplinas travavam verdadeiras batalhas com carbonos de várias cores para montar matrizes de mapas ou corpo humano.
                Vi essa escola, e outras, trocarem ventiladores “teco-tecos”, que se convertiam em mais um empecilho nas aulas expositivas, concorrendo deslealmente com nossa voz e unindo-se à conversa paralela dos alunos, por aparelhos modernos de ar condicionado.
                Agora, temos sala de informática, laboratório de ciências, sala de vídeo, biblioteca escolar, quadra de esportes, quadro branco, lousa digital (Aliás, o que foi feito disso?), etc, etc, etc... Temos. Utilizamos? Favorece a aprendizagem?
                Minha mãe cursou apenas até a 5ª série do antigo Ginásio, foi alfabetizada por um professor leigo, no alto da serra de Cachoeiras, onde ela vivia. Mais tarde, já adulta, casada, mãe de cinco filhos, matriculou-se no antigo Supletivo, onde estudou com professores que só possuíam o Curso Normal ou, no máximo, o antigo Curso de Adicionais (Alguém ainda sabe o que é isso?). No entanto, aprendeu a ler, a escrever, a fazer apenas as operações básicas, o que não a atrapalhou em nada a ser uma excelente cozinheira e costureira, fazendo tortas e bolos sob encomenda, elogiadíssimos em toda a cidade. Costurando, ela mesma desenhava e montava dos moldes à roupa pronta, em sua máquina, inicialmente de pedal e, mais tarde, elétrica (Chiquerésima!). Ambos ofícios aprendidos também com professores leigos.
                Qual é o verdadeiro problema, então, se parecemos ter evoluído tanto? Sempre estudei e lecionei cercada de alunos indisciplinados e, muitos, desinteressados. Sempre trabalhei com muitos professores e gestores também indisciplinados e desinteressados. Isso não parece ser o problema principal.
                Vejo que há uma falta de espaço para a busca de soluções verdadeiras! Colegas de trabalho que antes faziam da sala dos professores um local de debate, agora já não estão mais lá, ou não querem mais fazê-lo. Os COCs foram transformados em anotações mecânicas para alimentar bases de dados. Aliás, estamos todos muitos mecanizados.
                Professor vive de relatar fatos e conquistas, de se “gabar” do efeito que causou com esta ou aquela explanação numa aula que nem ele mesmo acreditava que encantaria tanto os alunos, de “gozar” (Quando o gozo é coletivo, então... Que coisa boa!) com o resultado positivo de uma avaliação feita anteriormente só para “descascar”.
                Tirem do professor a oportunidade e a vontade de falar do seu próprio fazer cotidiano, da sua lida com os alunos, da sua satisfação ou insatisfação com a rotina da sala de aula e lhe tirarão o brilho dos olhos.

Cláudia Ferreira
2018

VIDA



Manhã de 20 de agosto.
Acordei feliz.
Meu coração em festa.
Comemoração da vida
Que de mim brotou,
Há anos atrás.

De repente, a notícia.
Ônibus. Sequestro.
Ponte. Tumulto.
E quebrou-se a paz.

Desliguei-me do celular.
Desliguei-me da TV.
A realidade querendo entrar.

A notícia chega. A notícia vem.
Emoções confusas
E sons de tiros misturando-se
Ao choro de neném.

Cláudia Ferreira
21 de agosto 2019

PASSAGEIROS



Caramba!
No espaço de segundos,
Li sobre sua vida.
No espaço de segundos,
Li sobre sua morte.
Fernanda.
Arte pulsante!
Energia contagiante!
Num sopro, sua vida se fez.
Na falta de um sopro, sua vida se desfez.
Fica a sensação de efemeridade,
De areia vazando entre os dedos,
De vida que se desfaz,
Ligeira demais...

Cláudia Ferreira
25 de agosto 2019

16 setembro 2019

CARAS LIMPAS



Mascarados.
Mistura de medo, fascínio.
Quando ainda crianças,
Encantados.

Nesse universo mágico,
Homem-Aranha,
Batman,
Capitão América,
Zorro,
Morcego Vermelho.

Depois,
Descoberta e inspiração.
Diretas já!
O Sindicato somos nós!
Fora Presidente!
Vivas à Nação!

Caras na reta!
Caras limpas
Ou pintadas,
Mas nunca mascaradas!

Leonardos,
Betinhos,
Policarpos,
Sílvios,
Joãozinhos.
Quanta coisa me fizeram crer.
É... Meus heróis não morreram de overdose,
Mas ideologia, busco outra pra viver!

Cláudia Ferreira
2013

10 setembro 2019

RESPOSTA À "CARTA A UM ADOLESCENTE" DE RUBEM ALVES




                Querido Rubem,

               Há muito deixei de ser adolescente. Confesso que o fui até mais de vinte anos. Época boa, de poucos compromissos e muito romantismo. Porém, sou de uma geração de adolescentes que talvez não soubesse o que era a maldade, pelo menos não o tipo de maldade descrita por você, em sua “Carta a um adolescente”. Éramos mais inocentes? Não sei. Mas de uma coisa tenho certeza, éramos mais humanos e mais condescendentes com a natureza, com os mais velhos, com os professores.

                Se tínhamos mais medo? Também não sei. Mas respeitávamos as regras sem que isso nos abalasse ou nos traumatizasse. Talvez uma geração crescida em meio a um poder camuflado no crescimento do país, à força a às pressas, mas uma geração que sabia do poder dos pais sobre nossas atitudes como uma forma de proteção e não de agressão.

                No meu ovo, portanto, Rubem, guardo isto. Guardo momentos de uma adolescência sadia. Guardo broncas, sempre educativas, do meu pai. Guardo a ranzice carinhosa de minhas avós. Guardo as críticas construtivas de alguns professores, guardo também os anos de universidade na “cidade grande”; minha intelectualidade; as viagens que pude fazer.

                O meu ovo também está repleto de frustrações, entre aquilo para o qual me preparo cotidianamente (e bem) e aquilo com o qual me deparo nas salas de aula. Ainda me assusto com situações em que me obrigo a ser mais assistente social ou psicóloga do que meramente uma professora de língua portuguesa.

                Tenho medo também, como você, Rubem, de entregar meu ovo a alguém que o quebre e queira depois colar a casca, em vão, já que o conteúdo se perdeu. Ou será que já o quebraram e nem vi?

Cláudia Ferreira
2006

08 setembro 2019

MEU CORAÇÃO É VERMELHO!





Verde, amarelo, azul e branco
São as cores de minha bandeira.
Orgulho para a pátria brasileira,
Que, há 500 anos, vive em pranto.

Mas, por dentro, minha cor é o vermelho.
Como vermelho é o sangue dos indígenas,
Mortos por questões ínfimas.
E nessa cor eu me espelho.

Como vermelho é o sangue dos negros
E de toda a barbárie sofrida
Nas mãos do colonizador vil.

Como vermelho é o rubor de minha face,
Como vermelho é meu coração que bate,
Ao indignar-me pelo Brasil.


Cláudia Ferreira
Outubro 2018

05 setembro 2019

DELETAR




Quero uma lei!
Por favor, façam-me uma lei!
Que decrete o fim da saudade.

A partir desta data,
Fica decretado
Que ninguém mais,
Jovem ou velho,
Adulto ou criança,
De qualquer etnia,
De qualquer credo,
Com ou sem esperança,
Ninguém mais sentirá saudade.

Parágrafo primeiro:
Junte seus LPs,
Suas roupas velhas,
Os brinquedos de infância,
Sua máquina fotográfica obsoleta,
Aquela também, de datilografar.
As vezes em que disse “amém”,
Ou “graças a Deus”,
Ou “muito obrigado”.
Pois tudo isso é ultrapassado.

Jogue fora a alegria,

Momentos de nostalgia,
Delete os sorrisos,
Delete a Gilette, o Grapette.

Parágrafo segundo:
Se tudo isso realmente acontecer,
Delete-se!

Cláudia Ferreira
2012



04 setembro 2019

ONDE NÃO HÁ PRECONCEITO



Por que limitar
Branco, preto, amarelo?
Há preconceito no arco-íris?
Qual será o mais bonito?

Se fôssemos azuis, amarelos,
Pretos, vermelhos, verdes,
Enfim...
Que cor escolheria pra mim?
Talvez a que representasse a alma
E não a epiderme.

Cláudia Ferreira
198?

03 setembro 2019

NOSTALGIA



A professora do primário dizia:
Primavera: a estação das flores!
E da janela eu apenas via
Concreto, edifícios, cinza, dores...

O que restou das cores
Que em minha vida havia?
Esconderam-se nos arredores
Da minha infância vazia.

Você me perguntará o porquê de tanta nostalgia?
Sou do tempo em que aviãozinho
Era apenas um brinquedo.
Sacolé era um sorvete gostoso!!!
E pretinho era o apelido carinhoso
Do moleque ali da esquina.


Cláudia Regina Ferreira
1988

SOBRE NOSSOS PARLAMENTARES E TAIS

E vem aumentando a lista que se enquadra na máxima de que "político é tudo igual, nenhum presta". Nos últimos dias, nosso Congress...