08 março 2025

VERSOS LIVRES E NECESSÁRIOS

Se eu fosse uma mulher?

 

Me vestiria de flores,

Imitando a primavera,

Em suas tardes mais solares.

 

Sairia em busca do sol,

Mergulharia no mar sem medo,

Misturando meus mistérios aos dele.

 

Viveria um dia após o outro,

Sem a obrigatoriedade da rotina

E seus véus escondendo meus desejos.

 

Sorriria mais e sempre,

E daria gargalhadas altas e livres,

Tombando pra trás todo o meu tronco.

 

Escolheria não abdicar de mim

E me perdoaria por tudo

E pelos sonhos não vividos.

 

Não aceitaria hipocrisia e violência

E me faria de veículo

Para a paz e a sabedoria.

 

Não deixaria ninguém gritar comigo.

Levantar a mão? Menos ainda!

E abusar de qualquer forma, também não!

 

Me serviria um café bem quentinho

Desses que aquecem o corpo e alma.

Ambos calejados, mas vivos!

 

Cláudia Ferreira

8 de março de 2025

13 junho 2024

SOBRE NOSSOS PARLAMENTARES E TAIS

E vem aumentando a lista que se enquadra na máxima de que "político é tudo igual, nenhum presta".

Nos últimos dias, nosso Congresso tem protagonizado um show de horrores, de palavras de baixo calão a promessas de agressões físicas. Até aí, nada assusta, já que em outras épocas, isso também ocorria. O que me escandaliza é a sagacidade dessa gente para manipular a opinião pública, na tentativa de corroborar seus mais espúrios projetos de anulação de direitos conquistados há décadas.

Vamos falar de aborto?

Não creio que alguém de bom grado seja a favor da prática do aborto. Passa pela cabeça de alguém que uma mulher recorreria a isso com um sorriso na cara, ou que ela transaria pensando "Ah, se eu engravidar, eu tiro e tá tudo bem"?

Já existe lei que garante o chamado "aborto legal", e que não determina a época para fazê-lo. O que querem, então, com essa ideia de criminalização do aborto, até para esses casos, delimitando-os em até 22 semanas? 

Ora, se preparo um canteiro de mudas, eu devo cuidar dele até mesmo antes da germinação. Esses que dizem defender a vida não a consideram antes disso? Antes de 22 semanas, não há vida? O que é vida pra essa gente? A vida de uma mulher presa pela prática de aborto, não é vida? A vida de outros filhos que, talvez essa mulher já tenha, não é vida? 

E não adianta falar que, em casos de homicídio, um assassino também tem uma vida, então ele também não deveria ser preso. 

Não é disso que se trata. O fato é que aborto só é crime no quintal do vizinho! Se minha filha engravida de um namorado indesejado, muitos na família pensarão na hipótese de aborto. Se minha amante engravida, talvez seja a primeira hipótese. Hipocrisia!

Será que é possível nos colocarmos no lugar de meninas, adolescentes, ou mulheres adultas, que são estupradas, terem que aceitar gerar um filho de um ato tão bárbaro? Sem falar nos outros casos, onde o aborto, por lei, é considerado legal.

Vale lembrar que namorados e maridos "amorosos" também fazem, muitas vezes, suas "amadas" de vítimas sexuais, que geram crianças em ambientes de total ausência de harmonia. Vale lembrar que, grande parte dos estupros de vulneráveis ocorre em ambiente familiar, e essas meninas geram filhos dos próprios pais, avós, tios, irmãos.

Por fim, vale lembrar as estatísticas de meninas mortas por não terem o corpo formado para uma gravidez e mulheres mortas em "açougues" ou com remédios caseiros, por não terem acesso à assistência de saúde adequada para o aborto.

Se já está ruim, vai piorar!

De que vida estamos falando?


Cláudia Ferreira 

13 de junho de 2024


29 dezembro 2023

LAÇOS

Laços antigos,

Recentes,

Firmes,

Frouxos,

Momentâneos,

Permanentes.

 

Laços dos cordões umbilicais,

Laços das descobertas infantis,

Laços das peraltices adolescentes,

Laços das afirmações juvenis,

Laços das obrigações maduras,

Laços das perenidades senis.

 

Laços das amizades eternas,

Do amor familiar,

Dos afetos fraternos,

Dos compromissos profissionais,

Do respeito humanitário,

Dos encontros casuais.

 

Laços feitos

Entre duas ou mais partes,

Sem muito apertar,

Para que possam ser desfeitos,

Para que mereçam ser refeitos,

Quando assim se desejar.

 

Cláudia Ferreira

29 de dezembro de 2023

08 novembro 2023

INOCENTES OU CULPADOS?

Tantos porquês

Para os quais

Já existem respostas

Talvez...

 

Nuvens negras

Poeira

Fogo

Explosão

 

Pássaros de metal

Cada vez menores

Com tanto poder de destruição!

 

Feridas milenares

Que nunca se fecham

Podridão descoberta

 

Morte por poder

Morte por ganância

Morte por dinheiro

Morte por território

 

Só resta uma esperança:

Que o céu se alegre

Com a chegada de tanta criança.

 

Cláudia Ferreira

8 de novembro de 2023

06 junho 2023

SONHOS

Pesadelo no meio da noite

E grito por minha mãe.

Mãe é palavra de socorro.

Mente, coração, estômago,

Tudo numa só direção.

Pensei que fosse morrer

E veio a luz,

Em meio à escuridão.

Sempre em meu auxílio,

Clareza e brilho.

Gratidão.

Eu igual a ela,

Na aparência e no humor,

Mas não no dom

De socorrer alguém,

Como sempre fez.

E faz...

_Mãe!

_Que foi?

_Me ajude!

_Com o quê?

_A ter paz.

 

Cláudia Ferreira

06 de junho de 2023

23 dezembro 2022

SIMPLICIDADE

A criança caminhou pé ante pé,

para alcançar a janela da sala.

Casa humilde, chão de barro,

ainda há fumaça na chaminé.

 

Olhou pra um lado.

Depois, pro outro.

Nada, nem sinal.

Ficaria sem Natal?

 

Quando, de repente,

um vulto se aproximando.

Ouve um assobio longo,

daqueles que transpassam a gente.

 

A criança pulando de alegria.

Sua mãe, com o irmão mais novo,

ouve o pai dizendo:

“Passa um café, trouxe bolo".

 

Jesus personificado.

Ouve-se um coro celestial.

Em pequenos gestos, anunciado.

É Natal.

 

Cláudia Ferreira

23 de dezembro de 2022

 

 

15 setembro 2022

SEQUESTRO

             Ele percorria sempre o mesmo caminho, do trabalho para casa. Era um curto trajeto, com ruas bem iluminadas. Até que, um dia, o trajeto pareceu se alongar demais e, à medida que ele avançava, as lâmpadas dos postes se iam estourando e as ruas escurecendo. Quando se deu conta, percebeu-se sequestrado. Devagar, sorrateiramente e de assombro, ele foi sequestrado de sua realidade habitual.

        Sequestraram-no de pessoas que ele trazia em alto grau de consideração e da confiança que depositava na religião.

           Sequestraram-no da esperança de ver nossas riquezas naturais protegidas e da luta sem armas, a mais aguerrida.

         Sequestraram-no do verde e do amarelo da nossa bandeira e do direito à liberdade, ânsia mais verdadeira.

        Sequestraram-no do sentido democrático daquilo que é meu, é seu, é nosso, não apenas o que convier, e da vontade de escolher amar e ter a família que quiser.

          Sequestraram-no do gosto por artistas que antes ele curtia e de tudo que ele mais queria: ver seu país livre da opressão.

           Quem sabe, um dia?

 

Cláudia Ferreira

15 de setembro de 2022

VERSOS LIVRES E NECESSÁRIOS

Se eu fosse uma mulher?   Me vestiria de flores, Imitando a primavera, Em suas tardes mais solares.   Sairia em busca do sol, Me...