29 dezembro 2023

LAÇOS

Laços antigos,

Recentes,

Firmes,

Frouxos,

Momentâneos,

Permanentes.

 

Laços dos cordões umbilicais,

Laços das descobertas infantis,

Laços das peraltices adolescentes,

Laços das afirmações juvenis,

Laços das obrigações maduras,

Laços das perenidades senis.

 

Laços das amizades eternas,

Do amor familiar,

Dos afetos fraternos,

Dos compromissos profissionais,

Do respeito humanitário,

Dos encontros casuais.

 

Laços feitos

Entre duas ou mais partes,

Sem muito apertar,

Para que possam ser desfeitos,

Para que mereçam ser refeitos,

Quando assim se desejar.

 

Cláudia Ferreira

29 de dezembro de 2023

08 novembro 2023

INOCENTES OU CULPADOS?

Tantos porquês

Para os quais

Já existem respostas

Talvez...

 

Nuvens negras

Poeira

Fogo

Explosão

 

Pássaros de metal

Cada vez menores

Com tanto poder de destruição!

 

Feridas milenares

Que nunca se fecham

Podridão descoberta

 

Morte por poder

Morte por ganância

Morte por dinheiro

Morte por território

 

Só resta uma esperança:

Que o céu se alegre

Com a chegada de tanta criança.

 

Cláudia Ferreira

8 de novembro de 2023

06 junho 2023

SONHOS

Pesadelo no meio da noite

E grito por minha mãe.

Mãe é palavra de socorro.

Mente, coração, estômago,

Tudo numa só direção.

Pensei que fosse morrer

E veio a luz,

Em meio à escuridão.

Sempre em meu auxílio,

Clareza e brilho.

Gratidão.

Eu igual a ela,

Na aparência e no humor,

Mas não no dom

De socorrer alguém,

Como sempre fez.

E faz...

_Mãe!

_Que foi?

_Me ajude!

_Com o quê?

_A ter paz.

 

Cláudia Ferreira

06 de junho de 2023

23 dezembro 2022

SIMPLICIDADE

A criança caminhou pé ante pé,

para alcançar a janela da sala.

Casa humilde, chão de barro,

ainda há fumaça na chaminé.

 

Olhou pra um lado.

Depois, pro outro.

Nada, nem sinal.

Ficaria sem Natal?

 

Quando, de repente,

um vulto se aproximando.

Ouve um assobio longo,

daqueles que transpassam a gente.

 

A criança pulando de alegria.

Sua mãe, com o irmão mais novo,

ouve o pai dizendo:

“Passa um café, trouxe bolo".

 

Jesus personificado.

Ouve-se um coro celestial.

Em pequenos gestos, anunciado.

É Natal.

 

Cláudia Ferreira

23 de dezembro de 2022

 

 

15 setembro 2022

SEQUESTRO

             Ele percorria sempre o mesmo caminho, do trabalho para casa. Era um curto trajeto, com ruas bem iluminadas. Até que, um dia, o trajeto pareceu se alongar demais e, à medida que ele avançava, as lâmpadas dos postes se iam estourando e as ruas escurecendo. Quando se deu conta, percebeu-se sequestrado. Devagar, sorrateiramente e de assombro, ele foi sequestrado de sua realidade habitual.

        Sequestraram-no de pessoas que ele trazia em alto grau de consideração e da confiança que depositava na religião.

           Sequestraram-no da esperança de ver nossas riquezas naturais protegidas e da luta sem armas, a mais aguerrida.

         Sequestraram-no do verde e do amarelo da nossa bandeira e do direito à liberdade, ânsia mais verdadeira.

        Sequestraram-no do sentido democrático daquilo que é meu, é seu, é nosso, não apenas o que convier, e da vontade de escolher amar e ter a família que quiser.

          Sequestraram-no do gosto por artistas que antes ele curtia e de tudo que ele mais queria: ver seu país livre da opressão.

           Quem sabe, um dia?

 

Cláudia Ferreira

15 de setembro de 2022

03 setembro 2022

ORAÇÃO AO PAPAI DO CÉU

                 Papai do Céu, eu queria lhe pedir que todo ano fosse ano de eleições.

                Em ano de eleições, meu padrinho, que sempre se candidata a algum cargo, vem me visitar e me enche de presentes. Em ano de eleições, o tio da escolinha de futebol ganha uniformes, chuteiras e bolas, tudo novinho, pra gente treinar. Em ano de eleições, minha escola fica linda e não falta merenda! Em ano de eleições, meu vizinho, que é assessor de candidatos, não briga aos berros com a esposa, nem espanca os filhos. Em ano de eleições, o prefeito e o governador não atrasam os salários dos funcionários e, aí, meu pai não tem que vender fiado na quitanda dele, nem minha mãe fica sem freguesas no salão de beleza dela.

                Seria tão bom, Papai do Céu, se todo ano fosse ano de eleições...

                Em ano de eleições, eles dizem que a natureza não será mais agredida; as crianças nunca mais dormirão com fome; vai ter emprego pra todo mundo; nenhum aluno ficará sem escola de qualidade; todos os jovens terão vagas nas universidades; as cidades estarão sempre seguras; os idosos serão bem tratados; o atendimento à saúde será rápido e eficiente; não existirá mais racismo; as mulheres não serão vítima de violência.

                Mas se meu pedido for muito exagerado, Papai do Céu, permita, pelo menos, que eu não deixe de sonhar.

                Amém.

 

Cláudia Ferreira

3 de setembro de 2022

26 julho 2022

QUANDO O BRASIL “DANÇA”

 Ao som da macabra orquestra,

Tendo a troça por maestra,

Os pares vão-se formando

E tudo vira uma festa.

 

Alguém dança com aquele,

Aquela dança com o amigo,

E dançam sem ter vergonha,

Até mesmo com o inimigo.

 

Pelo som do carimbó,

Pelo frevo e o lundu,

Passando pelo forró,

Chegando ao caxambu.

 

Na marcação do fandango

E na batida do samba,

Os pares vão-se ajeitando,

Numa grande surumbamba.

 

Fulano com a beltrana,

Beltrana com outros mais;

Cicrano não entra na trama,

Porque não sabe o que faz.

 

Maracatu e xaxado,

Jongo, valsa e catira;

Xote, chula, enlaçado

Vão também compondo a trilha.

 

E em meio à festança,

Ao ritmo do tambor,

Aguardando a contradança,

Está o pobre do eleitor.

 

Cláudia Ferreira

26 de julho de 2022

LAÇOS

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